Publicado por:
Giovanna Fernandes Coutinho
SKINNER VAI AO CINEMA

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

Turma 1001

Psicologia

SKINNER VAI AO CINEMA

BÁRBARA COELHO G. GONÇALVES - 202002426764

GIOVANNA FERNANDES COUTINHO - 202002584033

RAFAELLA KELLY PAVÃO RAMALHO ARAÚJO - 202003133647

VINÍCIUS DE CASTRO OLIVEIRA - 202002584025

Orientador: Ricardo Dias de Castro

Resumo

A vingança é um estado comportamental apresentado pelo indivíduo que, geralmente, não consegue se adaptar da melhor forma às contingências presentes em sua vida, tentando, assim então, causar prejuízo contra aquele que seria o causador do seu. Consequentemente, poderá ocorrer situações de danos para ambos e até para terceiros. O objetivo central desta pesquisa é, analisar o comportamento operante de vingança do personagem Kenai contra o urso no filme “Irmão Urso”, abordando as principais contingências em que ele é exposto durante a história cinematográfica fictícia para que tal tenha chegado a esse comportamento. O procedimento realizado para concluir o objetivo foi assistir ao filme inúmeras vezes, refletindo a cada cena e debatendo sobre elas em grupo, tendo a teoria do Behaviorismo Radical como mediadora da análise. Dado o exposto, verificou-se que as experiências conturbadas vivenciadas durante a história criaram contingências imprescindíveis para Kenai querer se vingar após o trauma. Podemos concluir que o comportamento de vingança do personagem é gerado pela mudança comportamental antes e após a morte de seu irmão ao alterar as contingências em sua vida, como: a simbologia do urso ter sido depreciada, a culpa atribuída a ele pela morte de seu irmão e a retirada de uma pessoa importante de sua vida.

Palavras-chave: vingança; contingência; morte; behaviorismo; filme.

Introdução

No texto “Luto: uma perspectiva da terapia analítico comportamental” desenvolvido por Diogo Cesar do Nascimento e Gabriel Meirelles Nasser, acadêmicos em psicologia, além dos professores Cloves Antônio de Amissis e Tatiany Honório Porto, salientam que a perda é um principal motivo na alteração das contingências de reforçamento na vida do sujeito, sendo assim influencia na mudança de diversos comportamentos do mesmo, podendo ocasionar em emoções como a raiva, que de acordo com a leitura do texto “Behaviorismo e Etologia” de Walison Douglas a raiva se trata de uma emoção natural comum como consequência na retirada de um estímulo aversivo.

Está pesquisa tem o viés científico de compreender através de análises, o quão relevante são as consequências dos atos estimulados pela vingança, pois através dessas é possível entender cientificamente o que gera esse comportamento impulsivo, sendo assim possível identificar a melhor maneira de restringir tais comportamentos.

Compreende-se que comportamento vingativo gera inúmeros problemas ao indivíduo perante a sociedade do mesmo inserido, alterando suas relações sociais de maneira negativa. Com isso é importante a compreensão do estímulo gerador desse comportamento no indivíduo e o afeto ao ambiente e as pessoas ao seu redor a partir das consequências de suas ações.

A pesquisa tem como objetivo compreender as contingências que ocasionam o comportamento vingativo do personagem Kenai na animação “Irmão Urso”, 2003, devido ao fato do comportamento ser gatilho das problemáticas e acontecimentos principais no enredo.

Na mesma, o personagem apresenta comportamento aversivo a ursos desde o início da história, mas o que reforça o comportamento vingativo do mesmo é sua imediata interpretação da morte de seu irmão mais velho, Sitka.

Contanto compreende-se que o comportamento vingativo se origina como consequência de um acontecimento traumático. E devido a isso, baseamos o desenvolvimento deste projeto nas análises comportamentais dos personagens partindo do pressuposto de conceitos behavioristas.

MÉTODOS

A. SUJEITO

A pesquisa desenvolvida neste projeto parte da análise do comportamento do personagem Kenai e como a análise das teorias behavioristas explicam seu comportamento.

B. AMBIENTE, MATERIAIS E INSTRUMENTOS

Para o desenvolvimento deste projeto foram utilizados como materiais de apoio o Google Acadêmico, as ferramentas Microsoft Teams e Word Mobile oferecidos pela própria Universidade, o filme “Irmão Urso” de 2003 da Walt Disney baixado gratuitamente pela internet, computadores e celulares individuais de cada integrante da pesquisa.

A mesma foi realizada através de videochamadas, com cada integrante em sua respectiva casa, devido ao isolamento regente durante o período de pandemia.

C. PROCEDIMENTO

O procedimento para a realização do projeto foram as análises feitas a partir do ato de assistir a animação repetitivamente e também das análises teóricas e conceitos behavioristas que foram usados de ponte para correlação do comportamento presente na animação e sua interpretação das consequências do mesmo ano em um contexto real.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A animação “Irmão Urso” foi lançada pela Walt Disney em 2003 e tem a duração de 1h25min. O filme destaca a relação do ser humano com a natureza, relações familiares e tradições indígenas, contando a história do Kenai, irmão mais novo de três irmãos. Primeiramente nota-se uma aversão do personagem principal à ursos e ao que ele simboliza para sua tribo, o amor. Em seguida esse comportamento é reforçado quando o mesmo acredita que seu irmão foi assassinado por um urso, e Kenai quer vingar-se do animal. A vingança do irmão mais novo é o ponto-chave da trama e é o comportamento que estamos afim de analisar.

Podemos compreender a partir da leitura do texto Behaviorismo e Etologia de Walison Douglas que a raiva é uma emoção muito comum enquanto consequência da retirada de um estímulo reforçador ou a apresentação de um estímulo aversivo. Ela é uma emoção natural na contingência apresentada acima e sua existência está ligada com o processo de seleção natural.

Em Luto: uma perspectiva da terapia analítico comportamental, os até então acadêmicos em psicologia Diogo Cesar do Nascimento e Gabriel Meirelles Nasser e os professores Cloves Antonio de Amissis Amorim e Tatiany Honório Porto, destacam que a perda altera as contingências de reforçamento na vida da pessoa. É notório ao decorrer da trama mudanças de comportamento do Kenai a partir da morte do seu irmão, que após o acontecimento despertou no irmão mais novo o comportamento vingativo.

Ademais, podemos definir o autocontrole como a capacidade do sujeito de manipular estímulos que o faça comporta-se conforme as contingências. Quando falamos de uma pessoa que possui autocontrole, nos referimos a uma pessoa capaz de comportar-se adaptativamente as contingências e não apresentando comportamentos desadaptativos (esses comportamentos desadaptativos, vamos chamá-los assim, podem ser considerados como dentro da classe “causar malefícios a si/ou a outras pessoas”). Diante disso, fica claro a importância de ter autocontrole.

Skinner (1969/1980) afirma que o comportamento é a relação do indivíduo com o ambiente, sendo assim, o comportamento vingativo de Kenai é observado a partir de sua interação com o ambiente interno, comportamento de culpa, raiva, entre outros, e o externo, relação com o irmão mais novo, sua cultura, etc. Monalisa de Fátima Freitas Carneiro Leão e Carolina Laurenti em seu texto Uma análise de Modelo de Explicação no Behaviorismo Radical: o Estatuto do Comportamento e a Relação de Dependência entre Eventos indica que o analista do comportamento explica o comportamento descrevendo relações de dependência entre estímulos (antecedentes e consequentes) e resposta, desta maneira iremos explicar o comportamento do protagonista salientando seus estímulos.

6.1. QUERER DEFENDER SEU POVO

O núcleo familiar de Kenai apresenta um repertório comportamental de aversão à ursos, ao perder o irmão (S – estímulo discriminativo), Kenai entende que precisa defender seu povo contra ursos (S – reforço positivo), em especial o que aniquilou Sitka, levando o irmão mais novo devolver o ato ao urso (resposta do organismo).

Quadro 1 — Querer defender seu povo
Estímulo DiscriminativoResposta do OrganismoReforço positivo 
Aversão à ursosVingançaDefender seu povo
Os autores (2021)

6.2 ACHAR QUE A SIMBOLOGIA DO URSO NÃO TEM VALORES SIGNIFICATIVOS

Kenai considera que se tornar um homem significa receber deveres de luta e forma e não de amor, logo, considera o totem insignificante. Isso reforçou positivamente o comportamento vingativo do personagem principal, considerando as crenças de Kenai para com o urso um acréscimo de estímulo na contingência de vingar-se do urso.

Para ilustrar bem segue o esquema: S (estímulo discriminativo) a morte de Sitka → R (resposta do organismo) o comportamento vingativo de Kenai → S (estímulo reforçador) a insignificância atribuída ao urso.

Quadro 2 — Achar que a simbologia do urso não tem valores significativos
Estímulo DiscriminativoResposta do OrganismoReforço positivo 
Morte de StikaVingançaInsignificância atribuída ao urso
Os autores (2021)

6.3 ATRIBUIU A CULPA NO URSO POR OUVIR INSULTOS DO IRMÃO

Após a morte do irmão mais velho (S- estímulo discriminativo), Kenai apresenta um comportamento vingativo (R- Resposta do organismo). Denahi provoca seu irmão mais novo, Kenai, dizendo a ele que a culpa não foi do urso (S- reforço positivo), isso reforçou o comportamento de vingança.

Quadro 3 — Atribuiu a culpa no urso por ouvir insultos do irmão
Estímulo DiscriminativoResposta do OrganismoReforço positivo 
Morte de StikaVingançaDenahi culpa Kenai
Os autores (2021)

6.4. MOSTRAR QUE É CAPAZ DE RESOLVER O PROBLEMA SOZINHO

O personagem principal no início da animação mostrou-se uma pessoa imatura, após seu irmão falecer (S), o mesmo quis vingar-se (R) para mostrar o quanto é capaz, corajoso, independente, esse estímulo inserido reforçou o

comportamento vingativo do mesmo.

Quadro 4 — Mostrar que é capaz de resolver o problema sozinho
Estímulo DiscriminativoResposta do OrganismoReforço positivo 
ImaturidadeVingançaMostrar que é capaz
Os autores (2021)

6.5 SE SENTIR CULPADO POR TER OCASIONADO A MORTE DO IRMÃO

O fato de Kenai ter atraído o urso para perto de si e seus irmãos levou o próprio a acreditar que isso causou a morte de seu irmão, após isso, o mesmo decide vingar-se do urso, como podemos observar no esquema a seguir.

Quadro 5 — Se sentir culpado por ter ocasionado a morte do irmão
Estímulo DiscriminativoResposta do OrganismoReforço positivo 
Morte do irmãoVingançaCrer que a morte de seu irmão foi sua culpa
Os autores (2021)

6.6 MORTE DO IRMÃO

A raiva é um comportamento comum consequente da retirada de um estímulo reforçador. A morte de Sitka em si reforçou Kenai à vingar-se do urso, quando o mesmo já queria causar algum dano ao animal.

Quadro 6 — Morte do irmão
Estímulo DiscriminativoResposta do OrganismoReforço positivo 
Urso rouba os peixesVingançaMorte do irmão mais velho
Os autores (2021)

Conclusão

Na contingência morte de Sitka, concluímos por meio da observação do filme supracitado que foram diversos reforços positivos e negativos que levaram Kenai ao comportamento vingativo, destacando-se os reforços positivos, quando diversos estímulos foram acrescentados para que a frequência do comportamento de vingança fosse aumentada.

Referências

Cesar do NascimentoDiogo et al. Luto: uma perspectiva da terapia analítico Comportamental. Disponível em: file:///D:/19593-33807-1-SM%20(1).pdf. Acesso em: 15 jun. 2021.

DouglasWallson; RochaThiago Rodrigues . Raiva Desadaptativa. Behaviorismo & Etologia. Montes Claros, 2012. 2 p. Disponível em: https://behaviorismoetologia.blogspot.com/2012/01/raiva-desadaptativa.html?m=1. Acesso em: 28 mai. 2021.

Freitas Carneiro LeãoMonalisa de Fátima; LaurentiCarolina. Uma análise de Modelo de Explicação no Behaviorismo Radical: o Estatuto do Comportamento e a Relação de Dependência entre Eventos.

Honório PortoTatiany et al. Luto: uma perspectiva da terapia analítico comportamental. Psicologia Argumento, Paraná, n. 33, p. 83, 21 12 2015.

Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, 06 12 2018. Disponível em: http://docplayer.com.br/207080876-Tracos-de-personalidade-e-comportamentos-agressivos-o-papel-mediador-da-vinganca.html. Acesso em: 18 mai. 2021.

Nascimento da CruzRobson . U An introduction to the self-control concept proposed by the behavior analysis ma introdução ao conceito de autocontrole proposto pela análise do comportamento. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, PUC Minas, v. 8, n. 1, p. 10, 20 05 2006.

Pinto GuimarãesRodrigo. Deixando o Preconceito de Lado e Entendendo o Behaviorismo Radical. Scielo. Salvador, 2003. 7 p. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pcp/v23n3/v23n3a09.pdf. Acesso em: 18 abr. 2021.

Trabalhos mais lidos